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sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O SIGNIFICADO DA NOVA JERUSALÉM
"Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ómega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida. O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho. Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte" (Apoc. 21:1-8).

Esta visão de João continua a série de visões ("Vi") que começaram com a do segundo advento em Apocalipse 19:11. Alguns inclusive consideram Apocalipse 21:1-8 como "a parte mais importante de seu livro".

Apocalipse 20 e 21 estão unidos por muitos elos. Ambos falam de "céu e terra" (20:11; 21:1), do "mar" (20:13; 21:1), do "livro da vida" (20:12; 21:17), do "trono" de Deus (20:11; 21:3), da "segunda morte" (20:14; 21:8) e do "lago de fogo" (20:15; 21:8). Estas conexões confirmam que a visão da Nova Jerusalém é a culminação da longa cadeia de visões que aparecem em Apocalipse 19:11 a 21:8. Em outras palavras, a visão de "um novo céu e uma terra nova" (21:1). Segue à segunda vinda de Cristo (19:11-16) e ao milénio.

A descida da presença constante de Deus sobre a terra renovada é o propósito do plano de Deus e dos seus juízos sobre a humanidade pecadora. Por conseguinte, a visão de Deus morando com os homens em Apocalipse 21:1-8 forma o ponto culminante de todas as visões anteriores de João, e a consumação da esperança dos mártires. A inspiração do Espírito Santo, os dois últimos capítulos de seu livro [o de João] formam o cântico mais sublime.

Agora João recebe visões repetidas da Nova Jerusalém (Apoc. 21:1-8, 10-27; 22:1-6), que revelam progressivamente o esplendor da cidade de Deus. O fato de que João volta a ouvir a voz de Deus desde trono ordenando que escrevesse palavras que são "fiéis e verdadeiras" (21:5) é significativo. Desta maneira Deus autentica a veracidade do que João viu. As palavras de Deus estão formuladas nas promessas do Antigo Testamento que eram familiares ao povo de Israel. João usa estas alusões para enfatizar a continuidade do pacto de Deus. Destaca o seu compromisso repetindo sete vezes que Deus e o Cordeiro estão unidos inseparavelmente com a Nova Jerusalém (21:9, 14, 22, 23, 27; 22:1, 3). Dessa maneira, João transmite que as suas visões da Nova Jerusalém são em essência diferentes da esperança nacional judaica do seu tempo. A sua esperança futura se centra em Cristo Jesus e no seu povo universal.

Ao adoptar a linguagem gráfica de Isaías e Ezequiel, João descreve a realidade indescritível do céu... o quadro mais detalhado que alguma vez se deu na Escritura da realidade incomparável que Deus preparou para seus filhos.

O Significado Religioso de Jerusalém no Antigo Testamento
Os nomes de Jerusalém e o monte Sião são usados em forma sinónima no Antigo Testamento (ver Miq. 3:12; 4:8; Isa. 10:12). Jerusalém devia a santidade ao traslado que fez David da arca de Jeová, o símbolo do trono de Deus ao monte Sião (2 Sam. 6; Sal. 132:13-16). Sião funcionou como o centro da inspiração, salvação e adoração divinas (vejam-se os salmos 46, 48, 76). O Salmo 46 não glorifica a Jerusalém em si, excepto como o lugar onde Deus mora:
"Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações... Há um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo. Deus está no meio dela; jamais será abalada; Deus a ajudará desde antemanhã" (Sal. 46:1, 4, 5).

O Salmo 46 termina com uma perspectiva escatológica da majestade de Deus:
"Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra" (Sal. 46:10).

Espraiando-se sobre esta esperança paradisíaca, o salmista descreve a Jerusalém em termos ideais: "Há um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo" (Sal. 46:4). Como pôde o salmista dizer que Jerusalém tinha um "rio" quando não possui nenhum arroio, excepto um pequeno manancial perto de Giom? (ver 1 Reis 1:33, 38). Sua visão percebeu o tempo de salvação messiânico.

Vários profetas também descreveram Jerusalém escatológica como possuindo uma ligação com o marco do paraíso restaurado (ver Isa. 33:21; 35:6, 7; Joel 3:18; Ezeq. 47:1-12; Zac. 14:8). Dessa maneira, a cidade histórica de David chegou a ser na "teologia de Sião" de Jerusalém um símbolo da esperança escatológica, um tipo profético do reino messiânico. Dois profetas fizeram de Jerusalém a parte central do seu panorama futuro e portanto merecem a nossa atenção.

Ezequiel mostrou que Deus não estava atado incondicionalmente a Jerusalém, mas que a julgaria por sua apostasia religiosa, moral e social (Ezeq. 8-11). Deus abandonaria o templo e voltaria só para um Israel renovado moralmente (36:24-28; 37:26, 27), promessa que se amplia na descrição do novo templo em Ezequiel 40 a 48. Esse templo da visão de Ezequiel é de origem divina. É uma realidade celestial criada pelo próprio Jeová e transplantada para permanecer na terra. Virá à terra só quando o Israel de Deus seja purificado e quando o Messias tenha vindo a Israel (37:24, 25). A característica do novo templo será um rio doador de vida fluindo debaixo do templo (47:1-12). Esta característica forma um elo com o jardim do Éden (ver Gén. 2:8-14).

Isaías viu, na sua perspectiva profética, como os gentios irão à Nova Jerusalém com a confissão religiosa: "Só contigo está Deus, e não há outro que seja Deus" (Isa. 45:14; cf. 1 Cor. 14:25). Tudo estará unido por sua fé messiânica antes que por laços étnicos ou políticos. Isaías emprega os símbolos das pedras preciosas e jóias resplandecentes para descrever a beleza de seus muros e portas (Isa. 54:12), desenho que evoca a volta da opulência paradisíaca (ver Ezeq. 28:11-15; Isa. 51:3). Embora isto assinale uma qualidade transcendente da Nova Jerusalém, não há indicação em Isaías de que esta cidade tenha uma origem extraterrestre. A sua glória sobrenatural emana da presença de Deus. A essência de seu atractivo único não é tanto a sua beleza externa como a promessa de que Jeová voltará e de novo estará unido ao seu povo (Isa. 60:1, 2, 19; 62:11).

Portanto, a cidade recebe um nome novo (Isa. 62:2). Já não necessitará mais a luz do sol ou a da lua, porque "o Senhor será a tua luz perpétua, e o teu Deus, a tua glória" (60:19; cf. Apoc. 21:23; 22:5). Isaías mescla seu conceito da Sião do tempo do fim com seu motivo de uma nova criação usando as cores realistas de um paraíso terrestre (Isa. 65:17-25). Embora tenha anunciado mais explicitamente que nenhum outro profeta a criação de "novos céus e terra nova" (v. 17), esta descrição poética da Jerusalém renovada permanece em continuidade com o contexto histórico (v. 20). Permanece como uma realidade terrestre embora transformada. Sua bênção mais rica não será a longevidade ou a prosperidade, a não ser a presença de Jeová para responder suas orações (v. 24). Mas também estará presente o Messias, porque terá chegado o jubileu messiânico (61:1-3, 10; cf. Luc. 4:17-21).

Por esta análise breve do panorama profético de Jerusalém que temos nos salmos, no Isaías e no Ezequiel, sabemos que a cidade de Jerusalém desempenha o papel de tipo de uma Jerusalém futura e mais gloriosa. No Apocalipse de João vemos como se cumprirá esta promessa, muito além das expectativas dos profetas hebreus, na Nova Jerusalém de Apocalipse 21 e 22.
Depois de tudo, a Nova Jerusalém desce de cima, como uma criação nova de Deus, e por conseguinte será completamente diferente da velha Jerusalém.

Esperanças Judaicas Durante o Período Intertestamentário
Muito pouco tempo depois da revoltados macabeus (168-164 a.C.), os "sonhos-visão" do Apocalipse do “profeta” Enoc, escrito por volta dos anos 165-161 a.C., predisseram que com a aparição do Messias e a ressurreição dos justos mortos se construiria uma Nova Jerusalém, "uma casa nova, maior e mais alta que a primeira, e a pôs no lugar da que tinha sido recolhida" (1 Enoc 90:29).(6) Alguns escritos apocalípticos judeus depois de 70 d.C. expressaram a esperança de uma Nova Jerusalém "preparada antes", quando Deus decidiu criar o paraíso (2 Baruc 4:3).7 "Aparecerá a esposa como uma cidade e se verá a terra que está actualmente oculta... Com efeito, se manifestará meu Filho o Messias com os que estão com ele, e encherá de gozo os (justos) que sobrevivam durante quatrocentos anos" (4 Esdras 7:26-28).(8)

Aparentemente, alguns conciliábulos de judeus piedosos contavam com que Deus tinha "preparado e edificado" (4 Esdras 13:36) uma Sião ou Nova Jerusalém no céu que desceria à terra com o amanhecer do novo mundo. O autor do livro Apocalipse Eslavónico de Enoc (2 Enoc 55:2), também afirmou que a Nova Jerusalém estava situada no céu.

A literatura rabínica não continuou com estas expectativas judaicas, excepto na época posterior dos Midrash. Os rabinos em general acreditavam que imediatamente depois do juízo dos ímpios, Deus ou o Messias edificariam uma Nova Jerusalém sobre a terra.

As portas e as muralhas da Nova Jerusalém seriam construídas com safiras e com pedras preciosas e as suas ruas com puro mármore branco (Tobias 13:16, 17). A cidade seria tão grande, que as suas grandes muralhas se estenderia tão longe como Jope ou Damasco para albergar a "a raça celestial dos judeus bem-aventurados" no futuro (Oráculos sibilinos 5:250-252).(12) Deus viveria na cidade que levaria o nome de Deus. A característica central desta Jerusalém reconstruída seria o novo templo. Para o pensamento judeu, era completamente patente que a Nova Jerusalém não careceria de templo. A declaração do vidente cristão, 'e não vi nela templo' (Apoc. 21:22) teria sido inconcebível na velha sinagoga.

Esta recapitulação das diversas esperanças no judaísmo tardio indica que a esperança apocalíptica de João em uma Nova Jerusalém sem um templo é uma esperança distintivamente cristã, que se centraliza na presença de Cristo.

A Teologia de Paulo de uma Jerusalém Celestial
Paulo continuou o ensino de Cristo, de que Jerusalém e seu templo já não eram o lugar onde Deus habitava (ver Mat. 23:38; Gál. 4:25; também Heb. 12:22). Paulo escreveu que a igreja apostólica tinha chegado a ser o templo terrestre onde Deus estava presente: "Porque nós somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo" (2 Cor. 6:16; cf. Lev. 26:12; Jer. 32:38; Ezeq. 37:27; também Ef. 2:19-21).

Esta verdade do evangelho não compete com a eficácia do templo do novo pacto no céu, onde Cristo ministra como nosso Sumo-Sacerdote e intercessor e de onde envia seu Espírito vivificante (Heb. 7:25; 8:1, 2; 10:19; Rom. 8:34; 1 João 2:1). Paulo cria que a Jerusalém "de cima" é a "mãe" de todos os crentes cristãos, porque todos são renascidos por seu Espírito (Gál. 4:26, 29).
Enquanto no judaísmo rabínico a ideia de uma Jerusalém celestial se concebia em termos de um equivalente da Jerusalém terrestre em topografia e mobiliário, Paulo contempla a Jerusalém celestial como isenta de todas as noções geográficas, étnicas e nacionais. A Jerusalém celestial é a pátria dos cristãos, onde Cristo está e em que todos os cristãos têm sua cidadania (políteuma) registrada no livro da vida do Cordeiro (Filip. 3:20; 4:3; também Heb. 12:22, 23; Apoc. 21:27). Por Apocalipse 21:27 chega a ser evidente que o livro da vida do Cordeiro é a lista dos que estão inscritos como cidadãos da Jerusalém celestial.

A cidade celestial não é uma estrutura vazia; é a comunidade adoradora da igreja na terra com os anjos e os redimidos no céu (Heb. 12:22). Alguns identificaram a Nova Jerusalém com a igreja. Entretanto, deve conservar-se a distinção entre a cidade celestial e a igreja na terra, da mesma maneira que Hebreus 12 declara que a igreja se aproximou hoje a Cristo e à Jerusalém celestial (vs. 22-24). Como Cristo está ao mesmo tempo no céu e (por meio de seu Espírito) na terra, assim também existe uma relação espiritual íntima entre a Jerusalém celestial e a igreja sobre a terra. Assim como Cristo, que descerá fisicamente do céu à terra (Filip. 3:20), assim também a Jerusalém celestial descerá do céu à terra (Apoc. 21:2)! O objecto da esperança cristã não é meramente o "céu" e sim a cidade celestial: a Nova Jerusalém. Nossa cidadania actual nesta santa cidade representa mais que a segurança da salvação presente. Também nos dá a certeza de nossa entrada na cidade de descanso e gozo eternos (ver Heb. 4:9; 11:13-16). Assim como Abraão, os cristãos têm confiança absoluta procurando a "cidade... por vir" (Heb. 13:14). Virá depois do juízo final.

É chamativo que a esperança de uma Jerusalém celestial se descreva no contexto de uma polémica antijudaica, não só no Gálatas 4:26 e 27 e em Hebreus 12:18-24, mas também em Apocalipse 3:9 e 12. João destaca a verdade evangélica de que só o Cristo ressuscitado "tem a chave de Davi, que abre e ninguém fecha, e fecha e ninguém abre" (Apoc. 3:7). À luz de seu significado original em Isaías 22:22, esta declaração ensina "que a Cristo pertence toda a autoridade com respeito à admissão ou exclusão da cidade de Davi, a Nova Jerusalém". Cristo é a fonte de segurança para os crentes fiéis de que herdarão a cidade celestial. Diz Jesus:

"Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome" (Apoc. 3:12).

A Nova Jerusalém em Contraste com Babilónia
A Nova Jerusalém de Apocalipse 21 e 22 se descreve com a mesma imagem simbólica de uma "mulher" ou "esposa" como se tem descrito a igreja no Novo Testamento (ver 2 Cor. 11:2; Ef. 5:25-27). A visão que teve João da Jerusalém celestial como a "a noiva, a esposa do Cordeiro" (Apoc. 21:9), conecta a Jerusalém vindoura com a formosa "mulher" que aparece em Apocalipse 12:1 e 2. Na Nova Jerusalém a igreja já não sofrerá por causa da perseguição ou da adoração apóstata. Por isso Apocalipse 12 e 21 representam duas eras consecutivas: a era actual da igreja e a era por vir.

A Nova Jerusalém está colocada em contraste com Babilónia, a cidade prostituta. A prostituta tem gravado sobre sua fronte as palavras "mistério: Babilónia, a grande" (Apoc. 17:5), e está representada em Apocalipse 18 como a cidade condenada. "A mulher que viste é a grande cidade que domina sobre os reis da terra" (v. 18). Este simbolismo duplo de Babilónia (Apoc. 17, 18) contrapõe-se com o da Nova Jerusalém em Apocalipse 21 e 22 por meio de uma antítese perfeita.

Todos os habitantes da terra que não procurem refúgio no monte Sião (Apoc. 14:1), pertencem a Babilónia; os seus nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro (13:8). Estão obrigados a beber não só do cálice do vinho de Babilónia mas também do cálice do vinho da ira de Deus sem mescla de misericórdia (14:10). Esta ira divina a descreve simbolicamente com a imagem da condenação de Sodoma e Gomorra ("com fogo e enxofre") (14:1; cf. Gén. 19:24), e a de Edom ("a fumaça de sua tortura sobe pelos séculos dos séculos", Apoc. 14:11; cf. Isa. 34:9, 10). Esta linguagem figurada expressa a finalidade do juízo de Deus. Os impenitentes nunca entrarão no descanso de Deus (Apoc. 14:11 ; cf. Sal. 95:11 ).

O Apocalipse de João põe em contraste a Jerusalém como a cidade do Cordeiro (Apoc. 21:2, 9) com Babilónia como a cidade da besta (caps. 17 e 18). É significativa a forma idêntica como as introduz o anjo do juízo:

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