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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Religião

Tríade de Abidos (Osíris, Hórus e Ísis).
Estátua Ka egípcia.
O Antigo Egito fundamentou-se por sua plena relação com o divino e na vida após a morte de tal modo que o reinado faraônico foi baseado no direito divino dos reis;254 considerava-se o faraó filho do deus nt 3 255 A religião egípcia teve influência tanto em âmbito ideológico (a história egípcia foi explicada em viés divinos) como em carácter prático (a sociedade assim como a economia egípcias moldaram-se por influência de tal instituição); durante a história egípcia a economia local esteve intimamente relacionada com os templos. Na religiosidade egípcia o culto às divindades sobressaía as crenças gerais, o que faz da religião egípcia mais ortoprática do que ortodoxa.256
Os egípcios antigos eram politeístas e seus deuses representavam diversos elementos naturais que eram vinculados com elementos cotidianos.257 Cada cidade possuía seu deus padroeiro assim como um específico animal sagrado que a ele era consagrado; caso uma cidade se tornasse capital do reino (p. ex. Tebas) o deus local, da mesma forma que o animal a ele dedicado, eram elevados ao âmbito nacional e, consequentemente, começavam a ser cultuados por todo o império (p. ex. Amon).255 Os deuses egípcios tinham características antropomórficas, zoomórficas ou mistas;258 conquanto, embora idealizassem seus deuses com certas características animais, pode-se considerar que postulavam que tal deus possuísse as habilidades daquele animal e não necessariamente sua forma.256
Os deuses, muitas vezes evocados para ajuda e/ou proteção, também eram provedores de grandes males, de modo que tinham que ser aplacados com oferendas e orações. Assim como a sociedade egípcia, o mundo divino egípcio era fortemente hierarquizado; continuamente, por meio de mitos diversos, os deuses do panteão eram promovidos ou rebaixados neste hierarquia. Tal fato ocorreu, pois os sacerdotes não se esforçavam para organizar os diversos mitos, por vezes conflitantes, em um sistema coerente,259 já que consideravam estas diversas concepções divinas, múltiplas facetas da realidade.260 Os deuses eram ordenados e hierarquizados em grupos de três (tríades), oito (Enéades) e nove (Ogdóades); destes pode-se citar a Enéade de Heliópolis, a Ogdóade de Hermópolis e as Tríades de Mênfis, Tebas e Elefantina.256
Os deuses, a mando dos faraós, eram adorados nos templos e os cultos eram administrados por sacerdotes que diariamente lavavam, perfumavam, maquilavam e alimentavam a estátua do deus que permanecia trancada em um naos no centro do templo. Os templos não eram locais para adoração pública, e somente em dias comemorativos ou em festas selecionava-se um santuário para onde se transportava a estátua para que houvesse adoração pública;261 as procissões que transportavam as estátuas, que eram assistidas pela população, contavam com a participação de músicos e cantores. Cidadãos comuns podiam ter estátuas cultuais privadas, assim como amuletos de proteção.256 Após o Império Novo o papel do faraó como intermediário espiritual foi ofuscado devido ao desenvolvimento de um sistema de oráculos para comunicar as vontades divinas diretamente a população.262
Os egípcios durante sua história desenvolveram um pleno conceito de vida após a morte. Inicialmente acessível apenas para os faraós, a partir do Primeiro Período Intermediário alargou-se para toda a população, o que provocou um considerável aumento do uso de práticas como a mumificação.256 Segundo a visão egípcia os seres humanos eram compostos por cinco partes: corpo, sombra (šwt), alma (ba), força vital (ka) e nome.263 O coração, ao invés do cérebro, era considerado a sede de todos os pensamentos e emoções. Após a morte de um indivíduo seus aspectos espirituais são liberados e estes necessitam de restos físicos ou uma estátua para habitarem permanentemente. Todo defunto almejava voltar a seu ka e ba de modo a se tornar um akh. Para isto acontecer era necessário que o defunto fosse julgado digno no Tribunal de Osíris, onde seu coração era pesado;258 caso considerado digno, este poderia continuar a existir na terra em forma espiritual;264 caso contrário seria devorado por um monstro que consistia na mistura de três animais, leão, crocodilo e hipopótamo.261

Práticas funerárias

cerimônia da "abertura da boca".
Os antigos egípcios mantiveram um elaborado conjunto de costumes de sepultamentos que acreditavam serem necessários para garantir a imortalidade após a morte.265 Estes costumes envolviam preservar o corpo por mumificação, realizando cerimônias fúnebres, e enterrando, junto com o corpo, o espólio que seria utilizado pelo falecido quando ressuscitasse; antes do Império Antigo os corpos eram enterrados em covas no deserto e, naturalmente, eram preservados por dessecação. Após a V dinastia, a mumificação, privilégio exclusivo para as classes abastadas do Egito, tornou-se acessível para toda a população, mesmo que de forma variada.256 Durante o Império Novo tornaram-se comuns os sarcófagos antropomórficos e, durante a XX dinastia a prática de decoração das tumbas foi alterada pela prática da decoração dos sarcófagos.266 Múmias da Época Baixa também foram colocadas em sarcófagos com cartonagem pintada. As práticas de preservação real diminuíram durante as eras ptolomaica e romana, quando passou a dar-se mais atenção à aparência exterior das múmias, que passaram a ser decoradas.267
Máscara de Anúbis.
Múmias de animais.
O sepultamento dos pobres era muito mais simples do que o da elite, pois não tinham condições financeiras. Os pobres recebiam uma injeção de essências e vinhos corrosivos pelo ânus para dissolver os órgãos internos. Após alguns dias, com os órgãos dissolvidos, o corpo era enfaixado com peles de animais para ser enterrado no deserto onde se conservaria por dissecação. Os ricos, por outro lado, possuíam um processo diferente, a chamada mumificação artificial. Inicialmente o cérebro era removido com uma pinça metálica pelo nariz. Os outros órgãos (prática iniciada após a IV dinastia268 ), com exceção do coração, eram retirados, mumificados e depositados em vasos canópicos. O interior do corpo era lavado com vinho e substâncias aromáticas e depois preenchido com mirra e canela; posteriormente era embebido em natrão (mistura de sais) por 70 dias. Por fim era lavado para receber resinas e perfumes e ser enfaixado com tiras de linho embebidas em goma; entre as tiras havia amuletos de proteção. O corpo recebia uma máscara fúnebre e era depositado em sarcófagos de pedra ou madeira.256
O cortejo fúnebre se iniciava após a colocação do corpo dentro de seu sarcófago. Este era transportado por um carro de bois enquanto familiares, amigos, sacerdotes e carpideiras contratadas o acompanhavam. Ao chegarem no seu destino se procedia a uma série de rituais dos quais o mais importante era o da "Abertura da Boca". Neste ritual, a múmia era retirada do sarcófago para ser segurada por um sacerdote com uma máscara de Anúbis. Então, o filho do morto ou outro herdeiro se vestia com roupa de leopardo e, simbolicamente, com uma machadinha, fazia um corte que abria a boca do defunto para este recuperar o fôlego da vida. Só então o corpo era depositado novamente no sarcófago para ser enterrado.261
O ricos eram enterrados com maiores quantidades de itens de luxo, mas todos os enterros, independentemente do estatuto social, incluíam bens para o defunto. A partir do Império Novo, os "livros dos mortos" foram incluídos nos túmulos, juntamente com estátuas shauabti que, segundo as crenças, realizavam trabalhos manuais por eles na vida após a morte.269 Enquanto a classe pobre era enterrada em covas rasas no deserto, a elite construía para si túmulos que podiam ser pirâmides, hipogeus (túmulos subterrâneos cavados nos barrancos dos rio ou em encostas de montanhas) e mastabas (tumbas de base retangular com salas para oferendas).270 Como forma de proporcionar serenidade ao morto, os túmulos foram pintados com cenas da vida do morto.256 Após o enterro, se esperava que os parentes visitassem ocasionalmente o túmulo para levar comida e recitar orações em nome do falecido.271

Mumificação animal

Outra prática muito comum foi a mumificação animal. Os animais mumificados podiam ser bichos de estimação, pedaços de carne para as múmias ou então animais sagrados, divinizados por sua relação com os deuses. Eram, no geral, objetos votivos destinados aos templos de culto a animais. A partir da XXVI dinastia, as múmias votivas tornaram-se populares, o que gerou um intenso comércio que empregou legiões de trabalhadores especializados. Entre os animais embalsamados podem se citar gatos, cães, vacas, touros, burros, cavalos, carneiros, peixes, crocodilos, elefantes, gazelas, íbis, leões, lagartos, macacos, aves, escaravelhos, musaranhos e serpentes. Os animais eram preparados como as múmias humanas: seus órgãos poderiam ser retirados ou então dissolvidos, depois eram lavados interiormente com vinho e depois banhados em natrão para ressecamento e posteriormente eram envoltos com resinas para fixação das bandagens de linho.272

Arte

Busto de Nefertiti, pelo escultor Tutmés, é uma das mais famosas obras-primas da arte egípcia antiga.
Os antigos egípcios produziram arte para servir propósitos funcionais. Por mais de 3 500 anos, os artistas aderiram a formas artísticas e a iconografias que foram desenvolvidas durante o Império Antigo, na sequência de um rigoroso conjunto de princípios que resistiu à influência estrangeira e à mudança interna.273 Estes padrões artísticos – linhas simples, formas e áreas planas de cores combinadas com características projeções planas das figuras sem indicação de profundidade espacial - criou um senso de ordem e equilíbrio dentro de uma composição. Imagens e textos foram intimamente entrelaçados nas tumbas e paredes dos templos, caixões, estelas e até estátuas. A Paleta de Narmer, por exemplo, exibe figuras que também podem ser lidos como hieróglifos.274 Por causa das regras rígidas que presidiram à sua aparência altamente estilizada e simbólica, a arte egípcia antiga serviu a seus propósitos políticos e religiosos com precisão e clareza.275 A hierarquia social e religiosa influenciava no tamanho dos personagens.276
As figuras nas pinturas e baixo-relevos são representadas respeitando-se a lei da frontalidade: cabeça, pernas, peito, ventre e braços de perfil; olhos, ombros, umbigo e baixo-ventre de frente.277 278 O personagem principal de uma pintura devia ser representado sempre maior do que os personagens secundários. Faraós mandaram gravar em relevos vitórias de batalhas, decretos reais e cenas religiosas. Eram dispostos em faixas horizontais acompanhados por hieróglifos e apresentavam até "balões" indicando falas.279
Pintura de Nefertari no seu túmulo.
As cores possuíam uma função simbólica nas pinturas. O preto usado nas sobrancelhas, perucas, olhos e bocas representava a noite, a morte, a fertilidade, a regeneração e as inundações do Nilo. O branco usado nas vestes dos sacerdotes, nos objetos rituais, nas casas, nas flores e nos templos era associado a pureza, verdade, alegria e triunfo. O vermelho representava a energia, o poder, a sexualidade e Seth. A pele dos homens era pintada de vermelho-ocre e a das mulheres de amarelo-ocre. O amarelo representava a eternidade; o verde, a regeneração e a vida; o azul, o Nilo e o céu.276 279 As tintas eram obtidas a partir de minerais, como minérios de ferro (ocre vermelho e amarelo), minérios de cobre (azul e verde), fuligem ou carvão (preto), e calcário (branco). As tintas podem ser misturadas com goma-arábica como aglutinante e prensadas em bolos, que podiam ser umedecidos com água quando necessário.280 No entanto, análises de múmias de cerca de 3 200 a.C. mostram sinais de anemia hemolítica e outros distúrbios, causados por intoxicação com metais pesados (chumbo, mercúrio, arsênio, cobre) que eram usados como pigmentos, corantes e maquiagem, especialmente pelas classes dominantes.281
Os artesãos do Antigo Egito usavam pedra (basalto, pórfiro, xisto, diorito e o granito) para esculpir estátuas e finos relevos, mas usavam madeira como um substituto barato e fácil de esculpir. Algumas estátuas serviam objetivos políticos, sendo colocadas diante dos templos para que o povo as visse, mas tinham sobretudo um objetivo religioso.282 No geral as estátuas representam uma figura que olha para a frente, numa linha perpendicular ao plano dos ombros, com os braços colados ao corpo. As estátuas que se encontravam nos túmulos eram consideradas como uma espécie de corpo de substituição; o ka e o ba deveriam reconhecer o rosto onde habitavam, não sendo por isso relevante representar os defeitos do corpo. Algumas estátuas atingiam proporções grandiosas, como a Esfinge de Giza e os Colossos de Memnon.79 104
Os cidadãos comuns tiveram acesso a obras de arte funerária, tais como estátuas shauabti e o livro dos mortos, que acreditavam que iria protegê-los na vida após a morte.265 Durante o Império Médio, modelos de madeira ou de barro que representam cenas da vida diária tornaram-se populares aditamentos aos túmulos. Em uma tentativa de duplicar as atividades da vida após a morte, estes modelos mostram operários, casas, barcos e até mesmo formações militares que são representações à escala do ideal de vida após a morte dos antigos egípcios.283
Apesar da homogeneidade da arte egípcia antiga, os estilos de determinadas épocas e lugares, por vezes reflete a mudança de atitudes culturais ou políticas. Após a invasão dos hicsos no Segundo Período Intermediário, afrescos de estilo minoico foram encontrados em Aváris.284 O exemplo mais marcante de uma mudança de motivação política na forma artística encontra-se no período Amarna, quando as figuras foram radicalmente alteradas em conformidade com as ideias religiosas revolucionárias de Aquenáton.285 Este estilo, conhecido como a arte Amarna, foi rapidamente e completamente apagado depois da morte de Aquenáton e substituído por formas tradicionais.286 Durante a época romana os "retratos de Faium" dominaram a composição mortuária. As máscaras mortuárias foram substituídas por retratos realistas dos defuntos.279

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