Vida cotidiana
A maioria da população era constituída por agricultores ligados à terra. Suas habitações eram restritas aos membros imediatos da família, e foram construídas com tijolos de barro destinadas a manter o frescor no calor do dia. Cada casa tinha uma cozinha com teto aberto, o qual continha uma pedra de moinho para moagem de farinha e um pequeno forno para cozer pão.218 As paredes eram pintadas de branco e podiam ser cobertas com tapetes de linho tingido. Os pavimentos eram cobertos com esteiras de palha, enquanto que a mobília era composta de bancos de madeira, camas levantadas a partir do piso e mesas individuais.219 As mães eram responsáveis por cuidar dos filhos, enquanto o pai fornecia a renda da família.220A higiene e aparência pessoais eram tidas em grande valor. A maioria banhava-se no Nilo e usava um sabão pastoso, o suabu, feito de gordura e giz. Os homens raspavam todo o corpo para limpeza, e usavam perfumes, óleos aromáticos e pomadas para ocultar maus odores e manter a pele suave.221 Os óleos eram feitos com gordura vegetal ou animal e eram aromatizados com mirra, incenso ou terebintina. Um tipo de sal, o bed, era usado para gargarejar. As mulheres da corte passavam por um processo mais completo: depilavam-se, massageavam rosto e braços com pomada de mirra, colocavam um creme verde de malaquita nas pálpebras, desenhavam uma linha de kohl preto para alongar os olhos, colocavam pó de ocre nas bochechas e lábios e pintavam as palmas das mãos e a sola dos pés com hena.222
Tanto os homens como as mulheres da classe alta usavam perucas, jóias e cosméticos. Inicialmente as mulheres tinham o costume de manter os cabelos curtos, no entanto, ao longo dos séculos adotaram os cabelos compridos; os homens adultos utilizavam cabelos curtos e as crianças e os sacerdotes raspavam a cabeça. As mulheres vestiam um vestido de linho branco e os homens uma tanga; a população trabalhadora habitualmente andava nua ou então usava apenas um pedaço de tecido enrolado a cintura.223 As crianças ficavam sem roupas até a maturidade, cerca dos doze anos, e nessa idade os homens eram circuncidados e suas cabeças eram raspadas. Vizires, sacerdotes e o faraó usavam vestimentas especiais, respetivamente vestidos, peles de panteras e tangas costuradas com fios de ouro. No geral, havia apenas duas opções para os pés: nudez ou sandálias. Estas podiam ser de junco e papiro amarrados com barbante (mais simples) ou de couro costurado com linha de papiro (mais sofisticadas). Membros das classes mais elevadas da sociedade, costumeiramente adornavam o corpo com joias. As joias também eram usadas pela população menos abastada da sociedade por poderem se tratar de amuletos. Eram de ouro, prata, cobre ou cerâmica, incrustadas com pedras preciosas ou pasta de vidro colorido. Podiam ser diademas, colares, brincos, pulseiras, anéis e cintos.222
A música e a dança eram entretenimentos populares para aqueles que podiam pagar por elas. Instrumentos antigos incluíam flauta e harpas,224 enquanto os instrumentos semelhantes a trompetes, oboés e gaitas desenvolveram-se mais tarde e se tornaram populares. No Império Novo, os egípcios tocavam sinos, címbalos, tamborins, e tambores e importaram alaúdes e harpas da Ásia.225 O sistro foi um instrumento musical do tipo chocalho que era especialmente importante em cerimônias religiosas. Os faraós possuíam uma banda preferida, os hinodos que os acompanhavam em grandes cerimônias religiosas. Para divertimento dos presentes em banquetes havia dançarinas que dançavam em movimentos lentos, mímicos, que contavam lendas dos deuses e os imitavam, e pigmeus da África Central que dançavam danças rápidas e rítmicas.222
Eram praticadas diversas atividades de lazer, incluindo jogos e música. O Senet, um jogo de tabuleiro onde as peças se mudam de acordo com o acaso, era particularmente popular desde os primeiros tempos; outro jogo semelhante foi o Mehen, que tinha um tabuleiro em forma de serpente. Jogos de malabarismo, vara e bola eram populares entre as crianças, e também está documentada luta em uma tumba em Beni Hasan.226 Os membros ricos da sociedade egípcia praticavam caça e davam passeios de barco também. Havia uma grande variedade de brinquedos infantis, todos de madeira: piões, figurinhas, bonecas, cavalinhos e até bonecos articulados.222
Língua e escrita egípcia

Desenvolvimento histórico
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O egípcio antigo foi uma língua sintética, tornando-se posteriormente em uma língua mais analítica. O egípcio tardio desenvolveu artigos prefixais definidos e indefinidos, que substituíram os sufixos flexionais anteriores. Há uma mudança da velha ordem Verbo Sujeito Objeto para Sujeito Verbo Objeto.230 Os hieróglifos egípcios, a escrita hierática e o demótico acabaram por ser substituídos pelo alfabeto copta, mais fonético. O copta ainda é usado na liturgia da Igreja Ortodoxa do Egito, e vestígios dela são encontrados no árabe egípcio moderno.231
Som e gramática
O egípcio antigo tinha 25 consoantes similares aos de outras línguas afro-asiáticas. Estas incluíam consoantes faríngeas e enfáticas, oclusivas sonoras e surdas, fricativas surdas e africadas surdas e sonoras. Havia inicialmente três vogais longas e três vogais curtas, que se expandiram no egípcio tardio para cerca de nove.233 Uma palavra básica em egípcio, semelhante ao berber e semita, tem consoantes e semi-consoantes de raiz triliteral e biliteral. Sufixos são adicionados para formar palavras. A conjugação verbal corresponde à pessoa. Por exemplo, o esqueleto triconsonantal S-Ḏ-M é o núcleo semântico da palavra "ouvir"; sua base conjugal é sḏm ("ele ouve"). Se o sujeito é um substantivo, sufixos não são adicionados ao verbo; por exemplo: sḏm ḥmt ("a mulher ouve").234
Inscrição copta.
Escrita
A escrita hieroglífica datada de 3 200 a.C. (túmulo U-j do cemitério U de Abidos239 ) é composta de cerca de 500 símbolos, que podiam ser representações de animais, plantas, pessoas ou partes do corpo e utensílios utilizados pelos egípcios.240 Um hieróglifo pode ser uma palavra, um som ou um determinante mudo; e o mesmo símbolo pode servir a diferentes propósitos em contextos diferentes. Os hieróglifos foram uma escrita formal, usados em papiros, monumentos de pedra e nos túmulos, que podem ser tão detalhados como obras de arte. No dia-a-dia, os escribas usavam uma forma de escrita cursiva, chamada hierática, que era mais simples e rápida de escrever, escrita em pedras, papiros e placas de madeira.241 Enquanto os hieróglifos formais podem ser lidos em linhas ou colunas em qualquer direção (embora, geralmente, escritos da direita para a esquerda), a hierática era sempre escrita da direita para a esquerda, geralmente em linhas horizontais. Para se saber a direção a qual se devia ler os hieróglifos, era preciso olhar para a direção a qual as figuras humanas ou de pássaros estavam olhando, pois são estes que mostram o início do texto.242 Uma nova forma de escrita surgida no século VII a.C., a demótica, tornou-se predominante, substituindo a hierática.243Por volta do século I d.C., o alfabeto copta começou a ser usado juntamente com a escrita demótica. O copta é um alfabeto grego modificado com a adição de alguns sinais demóticos.244 Embora os hieróglifos formais tenham sido usados em contexto cerimonial até ao século IV, no final apenas um pequeno grupo de padres sabiam lê-los. Como os estabelecimentos religiosos tradicionais foram dissolvidos, o conhecimento da escrita hieroglífica estava quase perdido. As tentativas de decifração são datadas do período bizantino245 e do período islâmico,246 mas apenas em 1822, após a descoberta da Pedra de Roseta e anos de pesquisa de Thomas Young e Jean-François Champollion, os hieróglifos foram quase totalmente decifrados.247 Na Pedra de Roseta estão presentes três formas de escrita: hieróglifos formais, hierática e grega.242
Literatura


O Papiro Edwin Smith (ca. século XVI a.C.) descreve a anatomia e tratamentos médicos e está escrito em hierática.
O gênero conhecido como Sebayt (instruções) foi desenvolvido para comunicar os ensinamentos e orientações dos nobres famosos. Deste género destaca-se o Ensinamento de Ptah-Hotep, que em trinta e seis máximas expõe as reflexões do seu autor (um vizir) sobre as relações humanas. O Papiro Ipuur, um poema de lamentações descrevendo catástrofes naturais e agitação social, é um papiro contraditório, pois até o presente não se chegou a um consenso quanto a seu período, podendo ser um poema descritivo do Primeiro ou Segundo Período Intermediário. A história de Sinué, escrita em egípcio médio, é um clássico da literatura egípcia, contando as peripécias da personagem homônima.250 O Papiro Westcar também escrito nesse período, é um conjunto de histórias contadas a Quéops por seus filhos, relatando as maravilhas realizadas pelos sacerdotes.251 A obra Instruções de Amenemope é considerada uma obra-prima da literatura do Oriente Próximo.252 Outras histórias famosas são o Conto do Náufrago (história de um marinheiro que naufragou em uma ilha habitada por uma serpente), do Príncipe predestinado (história de um príncipe amaldiçoado), dos Dois Irmãos (história de vinganças causada pela mulher de um dos irmãos) e a Sátira das profissões (sátira realizada por escribas para mostrar os incômodos das outras profissões que não fossem o ofício de escriba).242
O egípcio tardio foi falado no Império Novo e está representado em documentos administrativos do período ramessida,, poesias de amor e contos, bem como em textos demóticos e coptas. No final do Império Novo, a língua vernácula foi mais frequentemente empregada para escrever peças populares como a História de Unamón e a Instrução de Any. O primeiro conta a história de um nobre que é roubado quando se dirigia ao Líbano para comprar madeira de cedro e as suas peripécias para voltar ao Egito. Durante este período, papiros como o Papiro Cester Beatty I, Papiro Harris 500 e um fragmento do Papiro de Turim mostram um tipo de poesia amorosa, com temas de paixão e erotismo. A partir de cerca de 700 a.C., histórias narrativas e instruções, como a popular Instruções de Onchsheshonqy, bem como documentos pessoais e empresariais foram escritos em demótico. A ação de muitas histórias escritas em demótico durante o período grecor-romano decorria em épocas históricas anteriores, de quando o Egito era uma nação independente governada por grandes faraós como Ramsés II.253
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